quinta-feira, 4 de junho de 2015

15 Filmes do leste Europeu que todo cinéfilo deveria conhecer

Quando o fim de uma guerra deixa uma Cortina de Ferro e um governo totalitário comunista em seu caminho, o que um cineasta pode fazer? A resposta, com base no que a história dos filmes da Europa Oriental parece nos dizer, é criar comédias satíricas que usam cenários bizarros, humor louco e qualquer outra coisa disponível pra enviar mensagens dissidentes sem ser vetado por censuradores – e possivelmente, preso pelo governo.

Aqui está uma lista de 15 filmes que você não deve ter ouvido falar – 14 dos quais sobreviveram à queda do Muro de Berlim – que alcançaram status de cult em seu país de origem europeia.

1. O Braço de Diamante (russo: Бриллиантовая рука), dir. Leonid Gaidai (1968)

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Sem dúvida uma das melhores comédias de seu tempo, O Braço de Diamante retrata o cidadão soviético comum Semyon Gorbunkov – interpretado pelo lendário Yuri Nikulin. Como ele se torna o centro de um confuso roubo de diamantes, depois de dois capangas ineptos, Kozodoyev e Lyoliko, terem o confundido com o seu mensageiro num navio de cruzeiro. Gorbunkov é forçado a usar um molde ortopédico com os diamantes contrabandeados dentro, e quando o navio retorna pra União Soviética, ele revela o que aconteceu pra militsiya (polícia). Ele hilariantemente consegue fazer o capitão se disfarçar como motorista de táxi e tenta usar Gorbunkov como isca pra capturar os criminosos. Enquanto isso, Gorbunkov começa a ter problemas em casa quando sua esposa suspeita que ele tenha um caso ou que ele tenha sido recrutado como espião estrangeiro. Desde sua estreia em 1968, O Braço de Diamante deixou inúmeras frases como “idiotice é eterna” e “eu não sou um covarde… Mas estou com medo…” na cultura popular russa.

2. Cruzeiro (polonês: Rejs), dir. Marek Piwowski (1970)

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Um dos primeiros filmes a serem considerados um clássico cult do cinema polonês, Rejs foi filmado como um quase-documentário e paródia da vida comunista das pessoas na República Popular da Polônia. Tudo começa quando um passageiro clandestino sem nome – interpretado por Stanisław Tym – foge pra um navio de cruzeiro que está descendo o rio Vístula. O capitão confunde o protagonista com um “coordenador cultural” do Partido Comunista e uma viagem de fim de semana se torna uma paródia do absurdo da vida sob o regime comunista, enquanto o passageiro clandestino manipula os passageiros e tripulantes a participar de jogos sem sentido, pelo qual ele, em seguida, estabelece a sua própria ditadura cômica. Citações memoráveis incluem “Ótimo, mas qual sistema de votação pode ser usado para selecionar o método de votação?”

3. Ela Não Parava de Chorar Para a Lua (eslovaco: Pásla Kone na betóne), dir. Štefan Uher (1982)

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Um dos maiores sucessos do cinema eslovaco, Ela Não Parava de Chorar Para a Lua usa comédia e ironia pra explorar o liberdade sexual, autonomia das mulheres na sociedade aborto, e aborto espontâneo. O enredo gira em torno de uma mulher chamada Johanka – Milka Zimková -, que tem um romance rápido com um pedreiro (Peter Vons), cujo fruto do romance é uma filha chamada Paulina. Dezoito anos depois, Johanka ainda está solteira, mas tornou-se uma trabalhadora muito respeitada na fazenda cooperativa local. Paulina está na idade de se casar, mas em vez disso perde a virgindade com um soldado e fica grávida. Ela não parava de chorar para a lua foi o primeiro filme a usar a variedade regional da língua eslovaca.

4. A Ironia do Destino, ou Aproveite o Seu Banho! (Russo: Ирония судьбы, или С легким паром!), Dir. Eldar Ryazanov (1976)

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Uma das produções televisivas Soviéticas mais bem sucedidas de todos os tempos – ainda é transmitida cada véspera de Ano Novo na Rússia -, A Ironia do Festino é, ao mesmo tempo, uma excêntrica comédia romântica e um comentário sobre a uniformidade sem alma da arquitetura urbana na era Brezhnev. O filme abre com uma animação em que um arquiteto vai buscar seus planos de construção aprovados por políticos sem rosto. Em pouco tempo, os planos originais do arquiteto são destruídos e ele é forçado a construir estruturas idênticas e sem graça. O filme, em seguida, gira em torno de Muskovite Zhenya Lukashin – interpretado por Andrei Myagkov -, que, devido a alguns percalços de uma bebedeira, acaba em Leningrado. Mas ele não percebe que está numa nova cidade porque a arquitetura parece exatamente a mesma de Moscou – até o nome da rua do “seu” prédio, e até mesmo o “seu” apartamento. Quando os moradores reais retornam ao apartamento, se apaixonam lentamente pelas flores.

5. Ursinho de Pelúcia (polonês: Miś), dir. Stanisław Bareja (1981)

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Um filme cult clássico que influenciou a cultura e a linguagem polonesa – e continua a ser citado hoje -, Ursinho de Pelúcia usa o humor surreal pra dar foco ao absurdo de se viver sob o regime comunista. Centralizado em torno de um gerente do clube de esportes patrocinado pelo Estado chamado Rysiek – interpretado por Stanisław Tym -, que está competindo com sua ex-mulher, Irena, pra chegar a Londres e ser o primeiro a retirar uma enorme soma de dinheiro de sua conta poupança conjunta. Nenhum dos dois quer compartilhar o dinheiro com o outro, e ambos têm que encontrar uma maneira de sair do país numa época em que as fronteiras são rigidamente controladas. Quando Rysiek descobre que sua ex tem seu passaporte invalidado por ter arrancado algumas páginas, ele arquiteta um esquema com seu amigo que o leva pro mercado negro numa viagem hilariante através da corrupção do governo, dos subornos, da burocracia e do absurdo.

6. O Misterioso Castelo nos Cárpatos (tcheco: Tajemství hradu v Karpatech), dir. Oldřich Lipsky (1981)

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Uma comédia baseada no romance de Jules Verne: O Castelo dos Cárpatos, o filme se passa na Checoslováquia em 1897, num castelo da cidade chamada Werewolfville nos Cárpatos. Repleto de imagens surreais, humor inexpressivo e ferramentas retrofuturistas – pertencentes a um cientista louco – o filme é inteligente e imprevisível. O filme também retrata uma donzela com uma aflição curiosa, um super-herói cujo poder é a voz de ópera e um vilão que é obcecado por barbas.

7. Cavalheiros de Sorte (russo: Джентльмены удачи), dir. Aleksandr Seryj (1971)

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Dirigido por Aleksandr Seryj logo após ser libertado da prisão, Cavalheiros de Sorte conta a história do bem-educado Troshkin – interpretado por Yevgeni Leonov -, que de alguma forma, com a sua baixa e roliça estatura e seu rosto largo, parece exatamente com um criminoso que foi preso com sua gangue por roubar o capacete de Alexandre, o Grande numa escavação arqueológica. Porque o criminoso está sendo mantido numa prisão diferente de seus amigos, a polícia pede a ajuda Troshkin. Troshkin é enviado à paisana na prisão e confusões acontecem quando ele tenta imitar o comportamento e as gírias dos prisioneiros.

8. Homens Não Choram (estoniano: Mehed ei Nuta), dir. Sulev Nõmmik (1969)

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Um dos filmes mais culturalmente influentes da era da ocupação soviética na Estônia, Homens Não Choram é sobre um grupo de pessoas que sofrem de insônia perpétua – entre outros assuntos. Eles pensam que estão sendo levados pra um sanatório pra tratamento – “Sanitário, Sanatório é um lugar de férias, bares, mulheres e música! Eu sou um homem totalmente saudável e eu quero ter tudo isso!”. Mas eles acabam numa ilha construída pra “terapia de trabalho”. Os homens percebem que eles foram sequestrados e decidem planejar uma fuga.

9. “Sexmissão” (polonês: Seksmisja), dir. Juliusz Machulski (1984)

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Comédia cult sci-fi de ação, o filme “Sexmissão” cimentou o seu lugar na cultura polonesa quase imediatamente após o seu lançamento em 1984. O filme se passa um pouco no futuro – em 1991 – quando os seus dois protagonistas masculinos Max e Albert – interpretados por Jerzy Stuhr e Olgierd Łukaszewicz, respectivamente – são voluntários pra serem os primeiros participantes humanos num experimento de hibernação. Eles acordam em 2044, num mundo pós-nuclear, onde todos os homens morreram por causa da radiação e todas as mulheres vivem no subsolo, governadas por um regime opressivo e se reproduzem por partenogênese. Os homens têm duas opções: a morte ou a cirurgia de mudança de sexo. O filme usa sátira e humor pra traçar paralelos sobre viver sob o regime comunista totalitário.

10. Operação Y e Outras Aventuras de Shurik (russo: Операция „Ы“ и другие приключения Шурика), dir. Leonid Gaidai (1965)

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Uma comédia pastelona de três partes, Operação Y segue as aventuras e percalços de um estudante desajeitado, ingênuo e honesto: Shurik – interpretado por Aleksandr Demyanenko – enquanto ele tenta ajudar uma mulher grávida num ônibus, passa por seus exames na universidade e, posteriormente, defende um armazém de pequenos criminosos numa batalha com armas improvisadas – como instrumentos musicais. Hoje, Shurik é reconhecido como um dos personagens mais populares do cinema da era soviética.

11. Olá, Eu Sou Sua Tia! (Russo: Здравствуйте, я ваша тётя!), Dir. Viktor Titov (1975)

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Um imenso hit desde seu lançamento, “Olá, Eu Sou Sua Tia” começa com o desempregado e sem-teto Babbs – interpretado por Alexander Kalyagin – que está sendo perseguido pela polícia. Através de uma série de reviravoltas, Babbs acaba se travestindo como uma mulher rica do Brasil – Donna Rossa – a fim de ajudar um casal rico num esquema pra seduzir um juiz. No final – alerta de spoiler -, a real Donna Rossa aparece e persegue Babbs, mas decide deixá-o continuar seu ardil por um tempo pra que ela possa aprender sobre sua extensa família. Enquanto isso, Babbs se apaixona. O filme foi tão marcante que seu título se tornou uma figura de linguagem russa.

12. Kingsize (polonês: Kingsajz), dir. Juliusz Machulski (1987)

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Lançado no final da era soviética, Kingsajz foi entusiasticamente recebido pela sociedade polaca anti-comunista do momento, e rapidamente se tornou um clássico. O filme é ambientado num mundo de dois reinos: o primeiro, Szuflandia (“terra gaveta”), está escondido no subsolo e é lar apenas de pessoas minúsculas, o segundo, Kingsajz (“kingsize”), está acima do solo, e – você adivinhou – composta por pessoas grandes. A trama retrata dois amigos de Szuflandia, Olo e Adaś, descobrindo segredos sobre os dois mundos e seguindo numa viagem pra se salvarem de torturas, sequestros, poções e telepatia. O filme é uma alegoria sobre o regime comunista no poder.

13. Moscou Não Acredita em Lágrimas (russo: Moscou não acredita em lágrimas), dir. Vladimir Menshov (1979)

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Este não deve ser um filme desconhecido pros cinéfilos hardcores – pois ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1980 – Moscou Não Acredita em Lágrimas pode não chamar atenção dos espectadores com menos de 35 anos. Ao mesmo tempo, continua a ser um clássico russo. O filme é ambientado em Moscou nos anos de 1958 e 1979 e mostra três mulheres jovens – Katerina, Lyudmila, e Antonina – que vêm pra cidade grande como estudantes de cidades menores. Elas finalmente se tornam amigas e a trama segue suas vidas encontrando namorados, casando, conseguindo empregos e/ou tendo filhos. Alegadamente, o presidente Ronald Reagan assistiu ao filme várias vezes antes de suas reuniões com Mikhail Gorbachev, a fim de obter uma melhor compreensão da “alma russa”.

14. Aqui Estamos Nós! (estoniano: Siin me ólemë!), Dir. Sulev Nõmmik (1979)

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Uma comédia musical clássica da era soviética, “Aqui Estamos Nós!” rapidamente conquistou o coração do público da Estónia. O filme começa num dia quente de verão, quando um carro vai em direção a uma fazenda na ilha Muhu. A família anuncia que quer passar as férias na fazenda. As férias, é claro, acabam em maus bocados. Mesmo décadas mais tarde, a sua declaração: “Nós somos de Tallinn, nós vamos pagar” continua a ser uma frase de efeito.

15. O Matador (inglês: The Hitman), dir. por Juliusz Machulski (1997)

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O único filme nesta lista que foi lançado após a queda do Muro de Berlim, O Matador é uma paródia dos filmes de ação e da máfia. Ele conta a história de um motorista de táxi chamado Jerzy “Jurek” Kiler – interpretado por Cezary Pazura -, que é acidentalmente confundido com um assassino notório pela polícia e é preso. Mas a máfia local rapidamente tira Jurek da prisão – também o confundindo com o assassino notório – porque eles precisam que alguns “trabalhos” sejam feitos. O filme foi tão bem nas bilheterias que havia rumores de uma adaptação americana pra obra, estrelado por Jim Carrey – o que terminou não sendo verdade, como você deve ter adivinhado.

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